segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Relatos de Uma Vida



Esse não é mais um texto, esse é o meu desabafo de uma vida inteira, ou talvez, exatos 3 anos e 9 meses; vamos com colocar 10 meses, porque um mês eu tirei pra sofrer mais e conhecer mais as pessoas, ou a pessoa.

Eu me considerava a garota mais egoísta e mais malvada da minha cidade, digo assim porque eu era “os pês do capeta”, que era como os conhecidos se referiam a mim quando eu aprontava algo de muito assustador. (Nunca matei nem roubei, mas é isso ai). Eu costumava mentir, mas era muito. Fui levada ao Psicologo quando tinha 9 anos de idade, descobri que era adotada, mas isso não importava muito, porque eu amava e amo a minha Família. Aqueles que me acolheram, que me deram amor, carinho, respeito, educação e acima de tudo, a chance de ser alguém na vida. Não fiquei tão abalada porque não entendia muito bem o que era ser adota. Mas sabia que era ruim. Porque o Psicologo fez uma cara de assustado como se meu mundo tivesse que cair ali, na sala dele. No passar dos anos, descubro que tenho algo raro, mas que hoje já não é tão raro assim. Eu descobri que tenho DDA. (Déficit de Atenção). E até escrevendo esse texto eu parei várias vezes para fazer outra coisa e acabei esquecendo de muita coisa que ia colocar aqui. (E já fui julgada por ter algo que eu não tenho culpa, porque doença a gente não escolhe, aliás, eu aceito o problema de todo mundo). Me tornei mais rebelde daí. Eu já aprontei tanto nessa vida aqui. Tive paixonites de escola, paixonites de amiguinhos, mas ai eu tive meu primeiro relacionamento; se é que posso chamar assim. Eu mentia tanto pra coitada que tinha pena dela as vezes. Menti, enganei, mas eu gostei dela. Mas eu sempre percebendo que aquela não era a pessoa certa, que aquele não era o momento de eu tomar a minha melhor decisão (e olha que tentei por varias vezes). Num belo domingo de manhã, e não é a música; eu aceitei viajar com minha prima e umas amigas, uma cidadezinha de Sergipe quase Bahia, pra fazer algo que eu detestava, assistir um culto de igreja evangélica. 

Mas ai vocês vão dizer: Não fala assim menina, quem sabe Deus não tocou seu coração e te deu algo bom. E eu vou responder: Ele não só tocou no meu coração como ele me deu a minha vida de volta. Exatamente caros leitores, ele me deu a joia mais rara do reino dele. O MEU AMOR. Dali eu comecei a me importar mais com o sentimento dos outros, com as dores dos outros, comecei a tomar para mim o que era delas. Foi como se eu sempre tivesse sido aquela garota preocupada com tudo e todos, mas algo não me deixava ver isso. Entendem? Pois é, eu comecei a gostar de alguém e nem sabia o nome dela. E ela me encontrou, eu a encontrei, nós lembramos uma da outra e eu finalmente pude saber o nome dela. Aquela menina da voz doce, a menina do caminhado engraçado, a menina da mal educação porque não tinha me dado tchau naquela noite de domingo. Só que eu não sabia e nem Deus me avisou de que ela seria a minha outra metade. Todo mundo tem metade da laranja, a tampa da panela, a capinha da escova de dente, o outro pé da meia, o leite do nescau, o rádio velho do carro... Mas eu queria apenas uma companheira, uma pessoa em quem confiar, alguém pra pegar na mão e dizer que eu estaria ali pra tudo que viesse, alguém pra contar os meus segredos, alguém para contar como era ser criança, alguém pra rir das bobagens, alguém pra eu melar de farinha de trigo fazendo um bolo, alguém pra dizer que eu estava errada quando preciso fosse. E finalmente, achei. Quer dizer, Deus me deu.

Talvez não tenha sido um prêmio bilionário, talvez não tenha sido uma mansão na melhor cidade do país, talvez não tenha sido o carro do ano. Mas era o passo pra isso tudo. Eu tinha e continuou tendo sonhos. Eu comi erros, prejudiquei pessoas, e quando isso acontece elas se metem em problemas. Tendem a fazer as escolhas erradas. Mas escolhas não têm que me definir, não têm que definir quem a minha família vai ser, porque sempre existe um momento em que você pode virar o jogo. Se eu tivesse outra chance eu faria de outra forma. Mas talvez o tempo para mim tenha acabado. 

Eu juro que eu não me imaginava tendo responsabilidades, não me imaginava AMANDO alguém como eu amei essa garota. Mas eu amei e ainda amo muito. E vou amar pra todo um sempre. É muito tempo, eu sei. Mas é isso que eu quero que fique, o melhor da nossa relação, o amor. Nós namoramos por 3 anos e 9 meses. Terminamos no nosso aniversário de namoro e brigamos durante um mês inteiro, sem parar. Até o ano novo. Eu nunca fui de me arrepender tanto de alguma coisa, como eu me arrependi de não ter dado outra chance pra gente, mas hoje, hoje eu peço uma chance pra vida. Uma chance pra fazer tudo diferente, uma chance pra viver diferente, uma chance pra ser diferente sem deixar de ser eu mesma. Mas a vida tá dificultando isso para mim. Deve ser um pagamento por tudo que era e me tornei por conta das dores que eu sentia. Mas eu aprendi que não devo odiar todas as rosas só porque uma espetou o meu dedo. Aprendi também que eu não devo apontar o dedo pra ninguém quando eu não sei das razões dela.

Eu me culpei, eu me isolei, eu tentei esquecer. Eu fingir está tudo bem, eu fingi tá feliz, eu fingi não me importar e isso só foi acabando comigo dia após dia. E eu parei e pensei. PORQUÊ? Eu era capaz de tudo pra ter a pessoa do meu lado, e hoje eu já não sei quem sou eu. Porque eu só ando recebendo patadas e notícias ruins. E já não sei se continuou capaz de tudo por algo que quer ir embora, por algo que não pensa mais em ficar. Mas as pessoas esqueceram de me ensinar como se supera a perda de alguém que amamos, antes mesmo de nascer. Esqueceram de dizer também, para essas pessoas, que não se pode pisar assim num coração. Porque ele bate, e tem uma vida dentro dele. E pode ser você!

O que as pessoas fizeram é culpa delas. Mas o que nós fazemos, a culpa é nossa. E eu não a melhor pessoa pra sentir saudades, não nos dias de hoje. Porque eu procuro, eu me importo, eu choro, eu sofro, eu procuro de novo. Mas tem uma hora que todo mundo cansa de dizer não, de dizer não dá. Já pensei em desistir várias vezes, mas ai eu me lembro o que me traz aqui. Eu nem me importava em perder a minha credibilidade, eu só não queria perder o amor da minha vida. Eu fui super protetora, eu fui ciumenta. E eu pensava o tempo inteiro que eu era diferente das outras pessoas. Acabei sendo igual a todas. 

Eu não disse que seria fácil, mas eu estava lá para o que precisasse, é o que as pessoas fazem quando estão juntas. Eu acho que amor não é mudar ou salvar uma pessoa, é achar alguém que já vem certa para você. E eu tenho certeza que eu queimei as minhas chances, na verdade, acho que explodi.

Eu me abri, arrisquei o coração, fiz de tudo, por tudo. Cada telefonema, cada foto que recebo, cada erro meu que é apontado, morre um pedaço. E no final disso tudo, eu me tornarei apenas um corpo podre dentro de uma carca forte e que só esqueceu de morrer. Eu não consigo ser de outra pessoa, eu ando vivendo dentro de mim mesma esse tempo todo. E estou quase indo contra os meus princípios para ter tudo que eu amo de volta. Isso não anula meus erros, mas aumenta as minhas chances. Eu realmente não sei onde posso chegar dessa forma, mas sei que em algum lugar dessa vida, eu vou superar.

“Relatos de um coração sozinho, numa noite quente e sem vidas. Um alguém que estendeu a bandeira branca e disse para si mesmo que precisava recomeçar.” Vanessa R. Costa